
Esta semana um grande amigo meu, também jornalista mas de outra publicação, questionava se o DN continuava a ser um jornal de referência. Isto depois de termos falado sobre o aumento de vendas do DN, que ultrapassou o Público, após seis anos. Ele dizia aquilo que alguns dizem sem pensar e, sobretudo, sem analisar devidamente a questão: que o DN pertencia agora ao segmento dos jornais populares, tendo deixado de ser de referência e que o Público estava no seu segmento sozinho. Nada mais disparatado. No que toca ao aumento de vendas do DN, que ele também questionava a sua veracidade (como se o DN pudesse mentir sobre os números. Não é o jornal que os fornece. Além disso são auditados da mesma forma para todas as publicações...), é fácil explicar a subida rápida em apenas um ano: competência.
Basta comparar o DN do início de 2007, ainda liderado por outro director, e o DN dos dias de hoje, liderado por João Marcelino, e reparar nas abissais diferenças. Uns dirão: "sim, agora dão crimes". E é verdade. E ainda bem que o DN noticia crimes, também eles fazem parte do nosso quotidiano. Mas além de crimes o DN dá notícias suas, tem os jornalistas nas ruas a fazer reportagens, outros fazem investigação, tem excelentes entrevistas e ainda marca a agenda nacional com as suas manchetes. Pouco ou nada disto acontecia no início do ano passado. O DN há pouco mais de um ano era irrelevante e por isso não era comprado. (Quem esteja a ler até pode pensar: "bem... este gajo deve estar a dar graxa ao director". Falso! O director não sabe quem é o autor deste blogue e que eu saiba nem o lê.) Como todas as pessoas que carregam nos "R", João Marcelino é inteligente e, saindo do Correio da Manhã, obviamente, não iria criar um outro CM no DN. Colocou a sua experiência (de vencedor) ao serviço do mais antigo jornal generalista nacional. Colocou os jornalistas nos lugares certos, fez mudanças editoriais e, sobretudo, lançou novos produtos dentro do próprio jornal. E tem outra vantagem: trabalha no jornal. Não está quase todos os dias a fazer de comentador num canal noticioso, como acontecia anteriormente, e que levou o DN à irrelevância. Aliás, com os louros que hoje estão à vista de toda a gente: chegou a director televisivo...
Por outro lado, os jornalistas do DN são maioritariamente os mesmos que estavam antes da sua entrada na empresa. Os tais que o meu amigo achava de referência antes de Marcelino e que agora acha populares depois da entrada de Marcelino. Nenhum eles mudou a sua forma de escrever. Sim, porque as notícias não são populares ou de referência. A forma como se escreve, e é apresentada, é que pode ser popular ou de referência. E isso não mudou. Por vezes cometem-se erros? Claro que sim, todas as publicações os fazem. Às vezes é inevitável num jornal diário e feito lutando contra o tempo. Mas comparem o DN de Janeiro de 2007 e o de agora. Vejam as secções, analisem as reportagens, os temas destacados, a quantidade de notícias dadas, as rubricas, a opinião. O DN ganhou vida. É hoje um jornal muito mais bem feito do que era. Ganhou suplementos como o DN Sport, o DN Gente e aproximou os leitores do suplemento de Economia, agora chamado de DN Bolsa. E ainda aumentou o jornal de domingo para 80 páginas com rubricas completamente originais. Nas revistas criou a DN Televisão, hoje Notícias TV, melhorou as revistas Notícias Sábado e Notícias Magazine. Em pouco tempo haverá um site do DN renovado e novos suplementos deverão estar na calha. Em apenas um ano, mudou quase tudo... e tudo feito utilizando a "prata da casa". O homem é um génio? Não sei. Sei que o panorama da imprensa portuguesa ganhou porque tem um DN mais forte e competitivo no mercado.
E isto é apenas o princípio. O mais antigo jornal de referência do País será, cada vez mais, também o jornal da preferência dos leitores portugueses. Não tenho a menor dúvida. Quanto ao Público... penso que perdeu o gás depois da última renovação gráfica. Deixou de dar verdadeiras manchetes que marquem a agenda nacional, menosprezou as secções Media e Desporto, ficou cinzento (apesar de ter cor nas suas páginas) e atirou uma das suas imagens de marca para o fim do jornal: a Opinião. Depois tem um director conservador e uma redacção progressista, o que dá azo a todo o tipo de incongruências editoriais. Graficamente ficou confuso e o leitor já não sabe onde encontrar o quê... Salva-se o suplemento P2, que mesmo assim é muito irregular. Ainda assim é um bom jornal, onde se encontram alguns artigos interessantes e com alguma profundidade. Pena que tenha deixado de inovar e surpreender. Está a ficar um resumo do que as televisões deram no dia anterior, à semelhança do Expresso, que resume nas suas páginas os acontecimentos da semana (talvez por isso, a Visão já seja o semanário mais lido pelos portugueses...). Mas como em tudo, é uma questão de hábito. As pessoas compram o Expresso porque se habituaram a fazê-lo, nem vêem a primeira página. E é também isso que vai salvando o Público... É isso a referência?