«Maria Callas, que morreu há 30 anos, cantou "La Traviata", no São Carlos, em Março de 1958 quando a sua carreira estava no auge e "foi extraordinária", nas palavras de Álvaro Malta que contracenou com a diva.
"A Callas que eu conheci era uma extraordinária cantora de ópera, tanto a nível vocal como interpretativo", disse à Lusa Álvaro Malta, já há muitos anos retirado dos palcos.
Um camarim do São Carlos foi arranjado de novo para receber a soprano, José Figueiredo, na altura director do teatro, foi esperá-la à saída do avião e a imprensa de então dedicou primeiras páginas a Maria Callas.
"Na altura, a Callas era considerada uma fera", afirmou o antigo cantor, um baixo. Dois meses antes de vir a Lisboa, a soprano causara escândalo ao abandonar em Roma uma récita da "Norma" no primeiro acto.
"Na realidade era uma senhora extremamente gentil, mas que exigia respeito", lembrou o cantor, que fez de Barão na ópera de Verdi, ao lado do tenor Alfredo Kraus, que interpretava o principal papel masculino.
Álvaro Malta contou um episódio que protagonizou com Callas no ensaio geral de "La Traviata".
"No terceiro acto, ela entrava pelo meu braço, com um leque enorme e deixou-o cair. Eu tinha de cantar e não podia apanhá-lo e ninguém sabia o que fazer. Acabei por dizer a minha frase e depois baixei-me e apanhei o leque. Ela disse uma única palavra, e não foi 'obrigada', foi 'scusa' (desculpa)", relatou, sublinhando o enorme respeito que Callas mostrou pelos colegas em Lisboa.
"Em palco, ela era a Traviata", considerou o cantor português, que recordou ainda que no final havia flores a cair por todo o lado.
"O público fez-lhe intermináveis ovações em todos os actos e nos finais das 'romanzas'", escrevia o Diário de Notícias a 28 de Março de 1958.»
Notícia Lusa
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