03 outubro 2006

Provincianismo


O post anterior fez-me lembrar o provincianismo que existe por muitas cidades do País. Em que ter rotundas, uma auto-estrada a passar ao lado e um grande centro comercial serve-lhes para acharem que são terras desenvolvidas. Paradigma disso é Bragança, Vila Real, Viseu... que depois continuam a ser tão ou mais provincianas do que eram antes. Um dos maiores desejos destas terras é ter prédios tipo-Massamá. Tanto os quiseram que destruíram as suas cidades. É que, ao contrário do que se possa pensar, o desenvolvimento e o progresso está na mentalidade dos seus cidadãos.

Ter um enorme centro comercial e depois ser contra a despenalização do aborto, ser racista e ter preconceitos é que é ser atrasado e terceiro-mundista. Já ouvi comentários de gente de cidades pequenas sobre Lisboa que eram deste género: "Aqui há tantos pretos!" ou "Lá (a terra deles) nem há comunistas (isto dito com orgulho)"... Estes comentários até já os ouvi de pessoas do Porto... Imaginem! Pois é meninas e meninos da província, felizmente a região de Lisboa tem muitos pretos, muitos comunistas, muitas formas de pensar e de viver e muita gente com uma mentalidade progressista e virada para o século XXI! E só é pena que em Lisboa não haja ainda mais gente estrangeira, de todos os credos e de todos tipos sociais e culturais. Ainda assim, é por isso que Lisboa continua a ser a cidade mais cosmopolita do País e com uma forma de pensar de acordo com o resto da Europa e que vai acompanhando os novos tempos. Por muitas auto-estradas e centros comerciais que se façam pelo interior não será isso que os tornará cidadãos modernos e desenvolvidos. É que já fui a um "lindo" (parecia uma nave espacial) shopping de terra pequena, que depois as pessoas que lá andavam continuavam a ter um aspecto de cavador de batatas e de mulher a dias (provavelmente também odiavam pretos e comunistas).

Neste meu comentário excluo o Alentejo e por isso fiquei feliz por Évora ter ganho o estudo de competitividade. Évora soube manter a sua identidade, apesar de ter crescido muito (vão a Vila Real e Bragança e vejam o que fizeram aos seus centros históricos...). Évora desenvolveu-se e não precisou de shoppings e só tem uma auto-estrada a passar ao lado porque é a ligação entre Lisboa e Madrid. Nunca ouvimos os eborenses reclamar por auto-estradas. O Alentejo ainda está preservado, mantém a sua cultura secular e já é mais rica que Trás-os-Montes, segundo os últimos indicadores. E que eu saiba Beja e Portalegre não têm sequer uma via rápida e grandes centros comerciais muito menos. Acreditem: o desenvolvimento está nas cabecinhas de cada um de nós.

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