07 janeiro 2007

Avô


Não sei bem porquê, mas nestes dias festivos que passaram lembrei-me recorrentemente do meu avô materno. Eu ia fazer 10 anos quando morreu, em 1985, mas a sua presença e, sobretudo, o seu exemplo manteve-se até hoje. Manuel de Matos Gomes foi um homem que simpatizava com Salazar, era hiper-católico e foi militar. Não me revejo em nenhuma destas opções, mas revejo-me, e muito, no seu carácter, na sua bondade, no seu altruismo e na sua honra. Nasceu em Vila de Rei, muito perto do centro geodésico de Portugal. Foi numa das suas missões nos Açores que conheceu a minha avó, uma faialense nascida nos Estados Unidos. Todos os dias passava na quinta onde ela vivia e todos os dias lá estava ela... Tanto passou que a conquistou. Tempos mais tarde teve de voltar para o Continente, mas já com casamento marcado. Foram viver para Tancos, onde o meu avô cumpria a sua carreira militar. E foi ali perto, na Barquinha, que nasceram os seus três filhos. Depois houve que escolher uma cidade onde viver e poder educar os seus filhos com mais condições. O meu avô deu três hipóteses à minha avó: Coimbra, Abrantes e Tomar. A minha avó excluiu Coimbra por ser demasiado longe, excluiu Abrantes por achar uma terra com uma mentalidade muito tacanha e escolheu Tomar por achar uma cidade bonita, ter um colégio bom (Nun'Álvares) e ter comboio directo para Lisboa. E foi em Tomar que se radicaram e educaram os filhos. Mais tarde, a minha bisavó (mãe da minha avó) ficou viúva, vendeu (mal dizem os filhos) todos os bens dos Açores e juntou-se à filha em Tomar. O meu avô e a minha bisavó passaram a tratar de tudo na vida dos filhos e das finanças caseiras. Um dos filhos ingressou na Academia Militar e foi para a guerra colonial, uma filha tirou um curso para educadora infantil e a outra (minha mãe) um curso de assistente social. Depressa os filhos sairam de casa. Já na reforma tornou-se ainda mais religioso e entrou para a Ordem Terceira de São Francisco de Tomar e numa associação católica de ajuda a necessitados. Aí ajudou de várias formas, incluindo monetária, muitas pessoas da cidade templária. É desse tempo que o recordo. Como vivi dois anos em Tomar, em casa dos meus avós (porque o meu pai, também militar, esteve em Santa Margarida), lembro-me que me levava à escola, contava-me muitas histórias e adorava estar comigo. Era um homem calmo, correcto e de um carácter nobre. Morreu um dia depois de ter carregado uma cruz de madeira.

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