18 janeiro 2007

Jornais diários


Nos últimos anos tem vindo a crescer a ideia (fundada) que a internet e os gratuitos estão a acabar de vez com a imprensa, sobretudo com os jornais diários. A verdade é que o número de exemplares vendidos, assim como as audiências, têm vindo a baixar. Como lutar contra a morte anunciada dos jornais impressos e que nos sujam os dedos? Não vejo nenhuma receita milagrosa, mas há falhas graves que poderiam ser facilmente solucionadas.

1. Não entendo como nenhum jornal se lembrou até hoje de aproveitar o filão que são os imigrantes. Que tal as secções de Internacional começarem a falar mais do Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique... Existem mais de 300 mil brasileiros no nosso país, ávidos de receber notícias da sua terra. O Brasil merecia uma página diária, criando-se, para isso, uma sub-secção no Internacional. É um nicho de mercado a aproveitar...

2. As secções Regional, País, Cidades, Local ou o que lhe quiserem chamar, dão imensa atenção à Grande Lisboa e Grande Porto, esquecendo quase totalmente (excepção feita ao JN) o resto do País. Esquecem-se que a maioria das pessoas que vivem nas duas maiores cidades e seus arredores são oriundas de Trás-os-Montes, Alentejo, Beiras, Ribatejo... e que desejam saber o que se passa nas suas terras de origem. Sobretudo porque não vivem nas terras que os viram nascer. É assim tão complicado e tão caro ter um correspondente por capital de distrito e mais algumas cidades de alguma importância?

3. Um jornal com um bom e completo suplemento de cultura tem mais leitores. está mais que provado! Quem se interessa por cultura, gosta de ler e tem apetência para comprar jornais. E não falo apenas de notícias culturais para elites. Terá de ser um suplemento completíssimo, que o leitor guarde para usar durante toda a semana. Isso inclui a programação televisiva para sete dias, cinemas em todo o País, todas as peças de teatro desde as do D. Maria II até à peça amadora de Freixo de Espada a Cinta... Um sumplemento que seja fundamental e uma referência!

4. Um jornal diário não pode viver das notícias que passaram no dia anterior na tv, sobretudo quando tem pouco espaço para textos, que é a tendência dominante. Por que vou comprar um jornal que me diz o mesmo que eu vi ontem na RTP, SIC ou TVI? A aposta é e deverá ser sempre: reportagens de fundo. E no que toca às notícias que todas as pessoas já viram há que dar enquadramento, explicar os pormenores. Dar ao leitor o que os canais de tv não deram. Há falta de espaço? Que se arranje... Um leitor de jornais gosta de ler e não compra um jornal para ver bonecos. Não entendo como é que as cabecinhas brilhantes dos media em Portugal ainda não perceberam isto.

5. Outra coisa que não entendo é por que razão as secções Sociedade têm montanhas de textos com conferências e debates... Não há leitor que aguente... Uma boa secção de Sociedade tem de dar, cada vez mais, muito espaço a temas como a Ciência e Tecnologia. Outra área importantíssima e que tem leitores em crescendo é o Ambiente.

6. O Desporto é sempre uma secção mal-amada em muitos jornais... É um erro crasso...

7. Um jornal que tenha um suplemento semanal de viagens terá uma mais-valia considerável. Os portugueses adoram viajar ou ler sobre locais de descanso, mesmo que nunca venham a pôr lá os pés...

Estas são apenas algumas ideias, se calhar idiotas e desprovidas de fundamento, mas é a minha opinião. Os jornais diários têm que deixar de olhar para o seu próprio umbigo e os jornalistas apenas para o seu computador...

4 comentários:

Rodrigo Cabrita disse...

TG...subscrevo por inteiro!!! Excelente refexão sobre o assunto.

TG disse...

Obrigado Rodrigo! Alguém que concorde comigo... ;-)

Anónimo disse...

Falta apenas encontrar pessoas com vontade e competência para colocar em prática essa madura reflexão... talvez lá para meados do século (do próximo, claro ;))

Anónimo disse...

Não é o único.
Excelente análise!