07 março 2007

RTP, memória com 50 anos


Para alguém que tem pouco mais de 30 anos como eu, a RTP significa televisão. As primeiras memórias que tenho das imagens a preto e branco vindas daquela pequena caixa encarnada de finais dos anos 70 são dos desenhos animados e da mira técnica durante a tarde. E lá estava eu horas à espera que a programação do fim da tarde e noite começasse... Nessa altura a imagem era pouco mais que sofrível e as interferências eram muitas. Bastava uma mota passar na rua para o que estavamos a ver ficasse distorcido.

No início dos anos 80 os meus pais compraram uma Philips, de tamanho maior e a cores. E ao lado do ecrã lá estavam três quadrados, um encarnado, outro azul e outro verde para assinalar isso mesmo. Eu era o comando que o televisor não tinha. O meu pai pedia-me sempre para me levantar e ver o que estava a dar na RTP2... Dessa época lembro-me sobretudo das séries infantis: Dartacão, Tom Sawyer, Willy Fog, Os Estrunfes, Rui o Pequeno Cid, Bana e Flapy, Flash Gordon, Era Uma Vez o Espaço, Verão Azul, o Rodinhas e tantas outras que de vez em quando recordo com nostalgia. Nessa altura, os sábados e domingos de manhã eram mágicos... Nem sei como me levantava tão cedo apenas para assistir aos "bonecos" que davam no televisor, não sem antes passar pela "seca" da TV Rural e da Missa Dominical... Ah, e várias vezes acordava a minha mãe, que dormia o sono dos justos, para me fazer papas Nestum. Ainda hoje tenho a nítida sensação do que eram esses tempos.

Depois começo a ter uma vaga ideia de programas à noite. Os Marretas, dos quais a minha mãe tinha de ler as legendas em voz alta, o Topo Gigio, que me indicava que era hora de me ir deitar, assim como os bonecos do João Pestana... o qual eu odiava de morte! Sempre detestei deitar-me cedo... Mas a minha mãe não perdoava e dizia: "Chichi... cama! E não te esqueças de lavar os dentes!" A vida é tão previsível quando se é criança... Depois começo a ter memórias do Telejornal, que eu odiava, dos Jogos Sem Fronteiras e da voz inimitável de Eládio Clímaco. Tenho uma vaga ideia da telenovela Gabriela (da primeira vez que foi emitida, claro) e lembro-me melhor da portuguesa Vila Faia. E do humor do Sabadabadu e das séries Gente Fina é Outra Coisa e Duarte e Companhia...Também recordo bem que a emissão da RTP terminava com o hino nacional. E também de ver jogos de futebol, sobretudo quando jogava o meu Benfica e do programa Domingo Desportivo. E claro, do Tal Canal de Herman José e de Eu Show Nico de Nicolau Breyner.

Momentos marcantes eram o Festival RTP da Canção e o Natal dos Hospitais. A primeira vez que tive noção do que era política foi durante um debate entre Mário Soares e Freitas do Amaral para a presidência da República de 1986. Tinha eu 11 anos. Ao contrário de todos (ou quase) colegas do meu colégio eu apoiava o candidato socialista. A primeira reportagem em directo que me marcou foi a do incêndio do Chiado. Assisti a tudo num televisor de um apartamento alugado no Algarve. Também foi no Algarve que anos antes assisti à primeira medalha de ouro conquistada por um português nos Jogos Olímpicos. E mais tarde vi algumas telenovelas brasileiras, mas a que mais me marcou, e era conversa na escola, foi o Roque Santeiro. Outro momento marcante foi a conquista do campeonato mundial de futebol de sub-21 ao Brasil no Estádio da Luz, já em 1991. E o que eu adorava ver os anúncios... o das bombocas, o dos chocolates de leite da Imperial no Natal, os da Coca Cola...

A seguir, com 16 anos fui viver para Bruxelas e deixei de assistir apenas a dois canais (RTP1 e RTP2) para passar a ver 30 da televisão por cabo belga. Um ano depois de lá estar, surgiu a RTP Internacional que quase vi nascer. Quando voltei para Portugal definitivamente, em 1994, já a SIC e TVI davam os primeiros passos. Em 1996 o meu pai mandou instalar a TV Cabo. E a televisão nunca mais foi a mesma... Por tantas e tantas memórias: Parabéns RTP!

3 comentários:

Anónimo disse...

Grande texto, Tiago! Muito bem escrito e definitivamente... muito sentido!

Suburbana disse...

aqui revi-me em quase todas as coisas excepto no Rui o pequeno Cid. Não me lembro do gajo!

Anónimo disse...

De facto ... não o diria melhor!
Parece que afinal o sentimento era igual para (quase) todos.

Os bons velhos tempos da televisão, não pela programação, mas pela magia que ela representava. Hoje é fazer zapping a mais de 100 canais sem demorar mais de 2segundos em cada um.

E o mais engraçado ... é que mesmo assim, às vezes dizemos: "Não 'tá a dar nada de geito!"

Parabéns pelo texto.

Pedro