30 agosto 2007

Para já, estamos safos...


«O efeito do Acordo Ortográfico, até agora ratificado por apenas três dos oito países que falam português, só talvez "na próxima década" possa ser avaliado "com mais clareza", defendeu o professor universitário brasileiro Paulo Motta Oliveira. Em declarações à agência Lusa, Motta Oliveira, da Universidade de São Paulo, responsável pela organização do XXI Encontro de Professores Brasileiros de Literatura Portuguesa, a decorrer entre 03 e 06 de Setembro, considerou estar-se em presença de "um desacordo", mais do que de um acordo. "Acho cedo para falar do acordo, ainda mais que se trata de um desacordo. Creio que toda a mudança ortográfica é difícil", disse.

Assinado em Dezembro de 1990, o Acordo Ortográfico deveria ter entrado em vigor a 1 de Janeiro de 1994 depois de depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados, o que não chegou a acontecer. Em Julho de 1998, na Cidade da Praia, Cabo Verde, foi aprovado um primeiro protocolo modificativo que previa a entrada em vigor do acordo depois da apresentação dos instrumentos de ratificação por todos os estados signatários. Seis anos mais tarde, em Julho de 2004, por um segundo protocolo modificativo, prescindiu-se da aplicação unânime do acordo e fixou-se que bastaria a ratificação por apenas três países signatários para entrar em vigor. Até agora, apenas três países - Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - ratificaram o acordo e os seus dois protocolos, estando, por esse facto, formalmente, em condições para fazer entrar em vigor as novas regras ortográficas.

Em Julho último, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse à Lusa que "seria muito importante, do ponto de vista editorial, que Brasil e Portugal estivessem juntos quando arrancar o acordo ortográfico". Na altura, o chefe da diplomacia brasileira escusou-se a dizer se o Brasil adoptaria as novas regras ortográficas sem Portugal.

"O problema é Portugal, que está hesitante. Do jeito que está, o Brasil fica um pouco sozinho nessa história. A ortografia torna-se mais simples, mas não cumpre o objectivo inicial de padronizar a língua", referiu Moreira. Em Julho último, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse à Lusa que "seria muito importante, do ponto de vista editorial, que Brasil e Portugal estivessem juntos quando arrancar o acordo ortográfico".

Portugal já ratificou o acordo, mas tem ainda de ratificar o segundo protocolo modificativo. Segundo fonte do ministério dos Negócios Estrangeiros, à Lusa, Portugal pretende introduzir uma cláusula de reserva diferindo por 10 anos a entrada em vigor do acordo.

Um outro interlocutor do Folha de S. Paulo, o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça, considerou que "não faz sentido" que, actualmente, nos eventos internacionais, seja "preciso redigir dois documentos (...): com a grafia de Portugal e a do Brasil".

Segundo especialistas, as modificações propostas no acordo devem alterar 1,6 por cento do vocabulário de Portugal. Os portugueses deixarão, por exemplo, de escrever "húmido" para usar a nova ortografia - "úmido" - e desaparecem também da actual grafia em Portugal o "c" e o "p" nas palavras em que estas letras não são pronunciadas, como em "acção", "acto", "baptismo" e "óptimo".

No Brasil, a mudança será menor, porquanto apenas 0,45 por cento das palavras terão a escrita alterada. O trema utilizado pelos brasileiros desaparece completamente e o hífen terá a mesma sorte quando o segundo elemento da palavra comece com "s" ou "r", casos em que estas consoantes devem ser dobradas, como em "antirreligioso" e "contrarregra". Apenas quando os prefixos terminam em "r" se mantém o hífen. Exemplos: hiper-realista, super-resistente.

O acento circunflexo sai também de cena nas paroxítonas terminadas em "o" duplo ("vôo" e "enjôo"), usado na ortografia do Brasil, mas não na de Portugal, e da terceira pessoa do presente do indicativo ou do conjuntivo dos "crer", "ler", "dar", "ver" e os seus derivados.Passará a escrever-se: creem, leem, deem e veem. No Brasil, o acento agudo deixará de usar-se nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas como "assembleia" e "ideia".

O alfabeto deixará de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", "w" e "y".» Notícia Lusa

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