22 novembro 2007

Vila Real, a cidade rural







Fui no fim-de-semana passado à capital de Trás-os-Montes para uma festa familiar. Desde pequeno que lá vou e aquela zona do País faz parte da minha vivência, apesar de no meu sangue não correr uma gota nortenha. A minha ligação familiar prende-se àquele local apenas porque uma tia minha ribatejana casou com um transmontano. Sempre que lá vou (normalmente uma vez por ano) sinto que vou a um sítio distante e afastado de tudo, preconceito esse que se deve aos tempos em que se demorava um dia inteiro para fazer as péssimas estradas que ligavam a capital do País a Vila Real. Hoje em dia esta viagem demora cerca de três horas e meia, caso não haja trânsito a mais.
Nos nossos dias, sinto que Vila Real continua a ser uma cidade rural. Apesar de todos os disparates urbanísticos de que foi alvo nos últimos 10/15 anos, a capital transmontana continua a cheirar a campo em todo o lado. Nem os prédios ao estilo Cacém e Damaia e o centro comercial a imitar uma nave espacial conseguiram mudar aquele encanto de estarmos numa cidade que cheira a terra.
Para quem não conhece Vila Real, aviso já que é uma cidade feia e quase incaracterística. Tem pouco a oferecer ao turista, tirando duas ou três igrejas antigas e o Solar de Mateus nos arredores. O encanto de Vila Real vem do Marão e Alvão e dos seus habitantes. Apesar dos prédios estilo Massamá, as pessoas são fisicamente transmontanas e cheiram a campo apesar dos perfumes que compram no "shopping" lá da terra (os vilarealenses dizem "shopping" porque acham mais moderno que dizer centro comercial). Aquela pronúncia de Trás-os-Montes não é demasiado carregada em Vila Real, caso não se irritem, e dá encanto a essas pessoas campestres que vivem na cidade. O grande defeito dos vilarealenses é terem vergonha de serem de Vila Real e de Trás-os-Montes. Isso nota-se muito quando falam com um lisboeta como eu. As conversas vão dar sempre ao que já existe na cidade: "Agora já temos um "shopping", "a nossa universidade tem muitos alunos", "A auto-estrada já cá chega", "Já temos prédios com mais de dez andares". Este tipo de frases denota complexos e uma ideia de desenvolvimento totalmente errada. Acho que a maioria das pessoas devia ir mais a Évora e tentar perceber como não se destrói uma cidade. Hoje em dia os vilarealenses vivem numa terra parecida com o Cacém, que ainda tema a sorte de ter belas paisagens à volta. Os vilarealenses deviam perceber que o desenvolvimento e o progresso está mais nas mentalidades abertas e nos estilos de vida descontraídos e muito menos nos tais "shoppings" e auto-estradas. Até porque podem ter tudo isso, mas nunca deixarão de ser transmontanos e deixar de viver numa cidade rural, que poderia ter ainda mais encanto se não tentassem ser algo que nunca serão.

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